Calendário da cultura não será antecipado no Estado. Apesar da vontade dos usineiros, chuvas atrapalham
A entressafra da cana-de-açúcar não será abreviada, em Mato Grosso, neste ano. Ao contrário da expectativa de um início de colheita ainda em março, as chuvas obrigaram os usineiros a rever a estratégia de antecipação. Como explica o setor, o trabalho de moagem tem de ser contínuo e não pode ficar parando e recomeçando, na medida em que as precipitações permitirem a coleta da cana no campo e por isso os trabalhos começarão somente no próximo mês, seguindo o calendário estadual.
A antecipação da oferta de etanol e açúcar desta nova temporada (2012/13) era uma maneira de compensar o impacto da estiagem sobre a safra 2010/11 que fez com que a colheita e a moagem fossem encerradas, de forma inédita no Estado, um mês antes do habitual, ainda em outubro do ano passado. Até aquele mês, oito das dez usinas em atividade já haviam concluído os trabalhos.
O cenário de extremos na cultura – fim de safra antecipado em 2011 e início de uma nova dentro do período habitual, o que aumenta a entressafra no Estado – não traz qualquer impacto ao mercado local. De acordo com Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso (Sindalcool), existem estoques para o suprimento doméstico e a redução dos preços, principalmente do etanol hidratado, é uma questão de tempo, mas já sinalizada pela cadeia. “Infelizmente, as chuvas seguraram a retomada dos trabalhos no campo e devemos colher e moer cana a partir da primeira quinzena de abril, quando as precipitações estiverem mais esparsas e permitirem uma colheita contínua. Essa aparente elasticidade entre o fim de uma safra e o começo de outra não interfere na dinâmica do mercado”, argumenta o diretor-executivo do Sindalcool, Jorge dos Santos.
A afirmação do executivo está baseada em números. “Em 2011 sobraram cerca de 80 milhões de litros de etanol hidratado. Por mais um ano, o consumo ficou aquém da produção e essa diferença se reverte em estoques agora”. Segundo balanço anual da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o combustível fechou o ano passado com queda de quase 20%. Em 2010, as distribuidoras venderam 416,3 milhões de litros no Estado, ao passo que, em 2011, foram 336,6 milhões de litros, queda de 19,2%. Há dois anos, a escalada de preços do litro do etanol tem afugentado o consumo que vai migrando para a gasolina. Essa movimentação fez com que a gasolina fechasse 2011 como o combustível de maior preferência, incremento de 25%, melhor índice dos últimos anos no Estado.
A SAFRA – A estimativa de produção da cana não está fechada ainda no Estado. De acordo com o Sindálcool, dois fatores estão sendo considerados antes de se fechar a projeção: as chuvas que beneficiaram os canaviais em rebrota e a recuperação de outros 20 mil hectares, repovoados com cana em setembro do ano passado. Isso deve surtir efeito positivo ao recompor parte das perdas provocadas por dois anos seguidos de estiagem e de falta de investimentos. Enquanto a vida útil deveria ser de cinco cortes anuais, no Estado se chega a até oito.
“As chuvas até este momento beneficiam a cana. No entanto, é necessário que a partir de maio cessem. O excesso de água reduz a concentração de açúcar e assim precisamos moer mais cana para obter volume”, explica Santos. De todo modo, ele acredita em recuperação com a produção de cerca de 14 milhões a 14,5 milhões de toneladas, ante um resultado de 13,15 milhões na última temporada. Outra certeza em função do comportamento do mercado é de que esta safra será mais ‘açucareira’ do que ‘alcooleira’. “Temos um consumo de combustível retraído. Nos dois últimos anos de produtividade comprometida pelas estiagens, firmamos o compromisso de não deixar faltar combustível no Estado e, por isso, sacrificamos a produção de açúcar, subproduto que deverá ser retomado agora”, explica.
CRÉDITO – Em fevereiro deste ano, o governo federal anunciou linha de crédito para atender ao antigo pleito do segmento sucroenergético. A linha de financiamento que começa a ser avaliada na prática pelos usineiros mato-grossenses, Programa Pro-Renova, deverá ofertar R$ 4 bilhões para expansão e renovação dos canaviais. Segundo Santos, a necessidade local está sendo formatada e as consultas ao Banco do Brasil começaram a ser feitas. “Temos de avaliar até que ponto o programa atende às demandas, suas exigências e o valor que poderá ser buscado. Como costumo dizer, o anúncio do programa é a apenas o nosso primeiro ‘round’”. Conforme matéria veiculada pelo Diário, em 20 de novembro do ano passado, Mato Grosso precisa renovar, com urgência, cerca de 30% dos 200 mil hectares ocupados com a cana para suprir demandas domésticas e manter a atividade financeiramente rentável. O custo desta necessidade está orçado em cerca de R$ 1 bilhão.
Fonte: Diário de Cuiabá
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