O clima frio e a incidência de chuvas ameaçam lavouras de trigo no Paraná, o principal estado produtor. Na área agroindustrial, moinhos se preocupam com a escalada de preços do cereal.
A persistência do "frio extremo" e o excesso de chuvas, em junho, podem ter comprometido a safra paranaense, de acordo com o presidente do Moinho Pacífico, Lawrence Pih.
"O trigo ainda está em desenvolvimento, e ainda é cedo para dizer se o Paraná está prejudicado. Mas, sem dúvida, há risco", diz o especialista, explicando que as conclusões virão com a colheita, entre setembro e novembro.
O meteorologista e agrônomo Marco Antônio dos Santos, do instituto Southern Marine Weather Services (Somar), avalia que "o frio extremo permitiu maior desenvolvimento do trigo no Rio Grande do Sul, mas prejudicou seu florescimento no Paraná".
Plantado entre junho e julho, o cereal gaúcho aproveitou os efeitos do clima na fase inicial de desenvolvimento, obtendo melhores resultados no perfilhamento (ramificação subterrânea) e na seleção natural, determinantes à qualidade, segundo Santos.
Já o trigo paranaense, cujo plantio acontece em torno de abril, sofreu as consequências climáticas (agravadas em junho) quando se encontrava em fase de florescimento. "As geadas queimaram o trigo no oeste do Paraná. Mas o que mais afeta são as chuvas constantes", observa o especialista.
O pesquisador paranaense Manoel Carlos Bassoi, da divisão de Soja da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), relata que "as lavouras mais precoces, de abril, pegaram quatrocentos mililitros de chuvas, durante dezeseis dias, em junho. Depois, houve incidência de brusone e giberela [as doenças]".
"Essas lavouras vão ter prejuízos de volume e de qualidade", afirma. "Mas não será nada catastrófico", pondera.
Para o pesquisador, o Paraná deve produzir uma safra de trigo similar à anterior: 2,3 milhões de hectares, na temporada atual. "Se não tiver mais problemas daqui para a frente."
As projeções da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que identifica o Paraná como o maior estado produtor de trigo do Brasil, são mais conservadoras, contudo.
Os números oficiais apontam para uma safra nacional de 2,1 milhões de toneladas, metade de cujo volume de "autoria" paranaense: um milhão de toneladas, ante 1,1 milhão em 2011.
Redução de danos
Triticultores de Tamarana, Londrina e Faxinal, cidades ao norte do Paraná, foram surpreendidos pelo clima e tiveram de investir além do previsto, em meados deste ano, para amenizar as consequências do frio e da umidade.
Assim diz o também produtor (de perfil empresarial) Rafael Fróes, que dirige uma empresa de sementes e cultivo, a Sementes Fróes, atuante nas três regiões e em outro município (Goioerê), ao oeste paranaense. A companhia detém 1.500 hectares de trigo, posto como cultura de rodízio, com produtividade elevada de 3,5 toneladas por hectare.
"O agricultor tinha diminuído os investimentos, no início do ano, em adubação, cobertura e prevenção. Mas teve que investir em tratos ao longo da cultura", afirma o empresário. A ocorrência de pragas atingiu 10% das lavouras, em sua estimativa. Para Fróes, as chuvas tiveram efeito pior do que o frio.
Preocupação de moinho
Posto que todo trigo deva ser processado - "o que preocupa os moinhos é a recente alta de preço", nas palavras de Pih. O representante agroindustrial verifica valorização de 40%, nas últimas seis semanas, nas cotações globais da matéria-prima do pão.
Os argentinos já estariam cobrando US$ 350 por tonelada de trigo. "E eles não repassaram tudo, ainda", endossa o executivo.
Os principais motivos para a escalada internacional do trigo são dois: 1) os preços do cereal acompanham os do milho, que sofrem fortes altas em razão da quebra de safra norte-americana; e, 2) quebras, puras e simples, de safras nos principais países produtores: Rússia, Ucrânia e Cazaquistão.
"A Austrália também nos preocupa", acrescenta Pih. E diz que os russos, que produziram 55 milhões de toneladas de trigo em 2011, devem fornecer 42 milhões de toneladas neste ano.
O Brasil, que importa trigo, deve produzir cinco milhões de toneladas e consumir, neste ano, o dobro disto, nas projeções do especialista (que superam, em muito, as da Conab).
Em tempo, Pih defende que os moinhos esperam pelo atendimento, por parte dos produtores, às novas normas para a classificação do trigo, que exigem do segmento mudanças de qualidade.
Fonte: DCI - Diário do Comércio & Indústria
Para maiores informações visite: www.agrolink.com.br
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