Inserir os pequenos produtores dentro de um projeto de agricultura sustentável é um dos desafios da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Na avaliação do presidente da Embrapa, Pedro Arraes, a combinação entre cooperativismo e ação mista de agentes públicos e privados na disseminação de tecnologias pode viabilizar o projeto de agricultura sustentável nas pequenas propriedades.
O governo federal vem assumindo metas ambientais e definindo estratégias que prometem alterar o cenário produtivo brasileiro nos próximos anos. A agricultura é o setor que vem sendo apontado como possível e forte contribuidor para atingir esses objetivos ambientais.
Uma das metas brasileiras, por exemplo, é a diminuição de emissões de gases de efeito estufa. Durante a 15ª Conferência do Clima (COP 15), organizada pelas Nações Unidas, o Brasil se comprometeu a reduzir a emissão de gás carbônico entre 36,1% a 38,9% até 2020, considerando o volume emitido em 1990. Ou seja, algo em torno de 1 bilhão de toneladas a menos no ar.
Na prática agrícola, essas metas são vistas de diferentes maneiras. Para médios e grandes produtores, a aplicação de tecnologias que contribuem para o meio ambiente é vista, em grande parte, como investimento de retorno. Mas, se transforma em um desafio quando a aplicação é feita na agricultura familiar. Isso, porque, em muitos casos, projetos de sustentabilidade produtiva no campo demandam, além de dinheiro para a compra de maquinários ou adequação de procedimentos, a necessidade de esperar pelo momento certo de obter os ganhos.
Pedro Arraes destaca que a Embrapa desenvolve trabalhos especificamente voltados para as pequenas propriedades. Estes estudos, segundo ele, são focados na realidade e limitações desse segmento, quando comparado com as grandes propriedades.
“A Embrapa tem uma série de atividade diretamente voltadas para a agricultura familiar. Temos cabedal de ciência e tecnologia que pode ser facilmente aplicado. Temos o projeto Quintais no Sul, por exemplo, que é uma série de frutíferas para renda extra. Temos, agora, o Centro de Pesca e Aquicultura. A aquicultura, especialmente, tem possibilidade de dar uma renda imensa para os pequenos produtores”, disse.
Segundo Arraes, outras iniciativas que não são especificamente voltadas para a pequena propriedade também podem ser aplicadas, sem grandes custos, pelos agricultores familiares. Um exemplo é o melhoramento do feijão, que, com as pesquisas da empresa agropecuária, passou a ser resistente a um vírus que afetava todos os tipos do grão. A questão, segundo o presidente da Embrapa, é fazer com que toda essa tecnologia saia dos centros de estudo da Empresa e cheguem ao campo, para todos os pequenos produtores.
“Não somos a primeira mola propulsora de tudo isso. Tem uma série de outras politica públicas que tem que vir antes da gente para essas pessoas estarem aptas a receber essas tecnologias. Muitas vezes o problema deles [pequenos agricultores] não é tecnológico”, declarou Arraes, defendendo um projeto ampliado de educação no campo, que aborde tanto a questão produtiva quanto a cidadã.
Historicamente, o trabalho de disseminação de tecnologia no campo é atribuído aos agentes de assistência técnica, um serviço que, sob a esfera pública, vem sofrendo com falta de investimento e espaço ao longo dos últimos anos. “Hoje tem o Pronaf [Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar], onde o produtor tem que fazer projetos, mas muitas vezes o agrônomo [que teria que orientar esses projetos] não vai nas propriedades. Acho que tinha que ter um debate não ideológico sobre essa questão, pautado nas necessidade desses produtores. Se não tiver renda, não vai ter sustentabilidade alguma. Ele vai cortar a mata para fazer lenha. Ele não vai morrer para não cortar a mata”, alertou o presidente da Embrapa.
Para Arraes, por enquanto, existem alternativas que podem ser testadas para suprir essa lacuna, como uma reorganização dos agricultores e uma parceria de atuação entre a iniciativa pública e privada. “Em Goias, com a produção do leite, os produtores se organizaram. Eles produziam de 3 a 5 litros de leite. Hoje, alguns deles estão produzindo 300 [litros]. Eles pagam, para cada 15 produtores, um técnico agrícola e cada grupo de técnico, tem um agrônomo que é para quem a Embrapa pode passar conhecimentos para serem multiplicados”, explicou.
Edição: Aécio Amado
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