quarta-feira, 21 de março de 2012

Soja transgênica sob medida para o Brasil ganha os campos



Empresa lança semente com dois genes inseridos, tecnologia inédita no mercado nacional

O agricultor Aldo Hanel, de Campo Mourão (PR), acompanhou com interesse especial a colheita da soja em uma pequena parte de sua fazenda. Em menos de dois dos 520 hectares da propriedade foi plantada uma nova variedade de soja, a primeira transgênica desenvolvida pela Monsanto especialmente para o mercado brasileiro.

Como grande diferencial, a soja Intacta RR2 Pro traz dois genes inseridos. Um garante a resistência ao herbicida glifosato, característica já presente na soja transgênica que ocupa 85% das lavouras da cultura no Brasil. A outra característica adicionada é a tolerância ao ataque de lagartas, que diminui as perdas e, principalmente, os custos dos agricultores com a aplicação de inseticidas. A Monsanto ainda garante um terceiro benefício, que seria o aumento da produtividade em relação às outras sojas do mercado.

Foi essa conjunção que atraiu Hanel para conhecer a tecnologia. Ele foi um dos 500 agricultores que puderam conhecer a soja Intacta nesta safra. “As plantas cresceram bem e não pulverizei inseticida contra lagarta nenhuma vez, enquanto no restante da soja fiz três aplicações neste ano”, conta ele. Em anos piores, ele chegou a fazer seis aplicações contra lagartas, cada uma a um custo total de até R$ 50 por hectare.

Quando chegou o tão aguardado dia da colheita, no último dia 15, Hanel mostrava mais curiosidade do que os próprios executivos da Monsanto para ver os resultados. Olho na colheitadeira, depois na balança, por último na calculadora. As linhagens Intacta testadas na fazenda mostraram produtividades de 5% a 10% superiores às sementes transgênicas tradicionais. “Já dava para ver na lavoura que o desempenho ia ser bom, e se o preço também for, certamente vou plantar”, diz o produtor.

A tecnologia da Monsanto já foi licenciada para nove companhias de sementes, mas ainda não está disponível comercialmente. Embora tenha sido liberada para uso comercial no Brasil em 2010, a Intacta ainda não foi aprovada para importação na China e na União Europeia. Sementes transgênicas, ou geneticamente modificadas, passam por processos regulatórios diferentes em cada país ou bloco econômico. ”Esperamos que a aprovação ocorra ainda neste ano, para já disponibilizarmos sementes Intacta na próxima safra”, prevê o gerente comercial da Monsanto, Rafael Carmona.

Por isso, toda a soja Intacta produzida nas 500 fazendas escolhidas neste ano foi destruída logo após a pesagem, para que não se misturasse às variedades autorizadas a entrar nos países importadores. As lavouras da nova soja foram separadas das outras áreas da fazenda por diversas fileiras de milho, para evitar a mistura dos grãos.

Brasil no foco

Antes da Intacta, a alemã Basf e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) também desenvolveram uma soja exclusiva para o Brasil, a Cultivance, aprovada comercialmente em 2010. A nova semente da Monsanto mostra que esse deve ser um caminho sem volta, diante do tamanho do mercado brasileiro e das projeções de crescimento do agronegócio nacional.

“A concorrência entre as empresas de insumos é uma das mais pujantes forças a favor da pesquisa agropecuária atualmente”, disse o especialista em economia agrícola do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV) em palestra na última segunda-feira (19). Lopes participou de uma mesa redonda organizada em São Paulo pela revista Conjuntura Econômica.

Na Monsanto, as apostas na Intacta são altas. Carmona comanda um time de 42 engenheiros agrônomos totalmente dedicados ao novo produto, que nem está sendo vendido ainda. Essa equipe técnica é superior à de muitas áreas de negócio inteiras da companhia no Brasil. ”A Intacta é o principal produto da Monsanto entre aqueles que já foram lançados e os que ainda chegarão nos próximos três anos”, avalia Carmona.

Sou Agro

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